terça-feira, junho 27, 2006

A Silves

Flores - Rua do Jasmim

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A Silves

Ó Dona dos Corações, em ti talvez

Esteja a causa do tormento do cantor

Diz adeus a quem te quer, inda um vez,

E que, sem ti, por nada sente amor.

É que, se acaso, longe surges na lembrança

Por ti choro, Silves, pranto de criança.

Poema de Ibn Habib

~*~

domingo, junho 11, 2006

Feita de graça e feitiços


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Feita de graça e feitiços

Me acende no coração

A fogueira da paixão

A moça de negros frisos.

Não dá sombra à sua face,

Cor de cravo que seduz,

O cabelo em seu enlace

Pois os olhos lhe dão luz.

Juro que hei-de consagrar

As forças que Deus me deu

Em contentamento dar

Ao que é semelhante meu.

Tarefa vã pois reparo

Que no pouco desejar

Está o tesouro mais raro

Se a bondade o enquadrar.

Poema de Ibn'Sara

Quarteto "Atlântida"

Eduardo Ramos: música, voz, viola, campaniça, cimbalos

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quarta-feira, maio 17, 2006

É o teu sorriso

Silves - rua dos meus sorrisos...
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É o teu sorriso
É o teu sorriso que se mostra agora
Da zanga vai-se a noite e desponta a aurora.
Que oculta teu olhar na chamada bela
Flor na verde encosta ou antes estrela?
Minha boca fica presa em teu louvor
Cala-se a paixão no indiscreto amor.
Tua grandeza, essa, é meu escudo
E tua graça o meu sabre agudo.
De ti colheu a nuvem o pranto generoso
E os raios são sorrisos em rosto amoroso.
Ibn Abdun
***
Música Eduardo Ramos

quinta-feira, abril 27, 2006

A amada de Ibn Amar


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A amada
Ela é uma frágil gazela
Olhares de narciso
Acenos de açucena
Sorriso de margarida
E se os seus brincos se agitam
Quedam-se as pulseiras
Na escuta da música
Do requebro da cintura
Ibn Amar
***
Tema 1 Cd Andalusino
Músicos: Quarteto Atlântida
Joaquim Galvão - flauta
João Pedro Cunha - violino
Jão Miguel Cunha - viola de arco
Bruna Mélia - violoncelo
Eduardo Ramos-alaúde árabe, pau de chuva, sinos e voz
Arranjo orquestral:Joaquim Galvão e Eduardo Ramos

quinta-feira, abril 13, 2006

Olha essas flores

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Olha essas flores
Olha essas flores. São, assim
Regadas pela dádiva da chuva.
Como que estrelas num céu de jardim
Devagar tombando uma a uma.
Furtivamente querendo escutar
Dir-se-ia que um génio de espuma
Procurou saber o seu segredo
E se desfolharam para o castigar.
E eis que a mão da brisa em seu enredo
Sobre o inquieto dorso do arroio
Caprichou em bolhinhas de enfeitar.
Al'Alam As Santamari
***
Poema dito por Maria Santos
Música Eduardo Ramos CD Andalusino Poesia Luso-Árabe séc.XI a XIII
Composições de Eduardo Ramos
Músicos: Eduardo Ramos - Ocarina e sons de pedrinhas

domingo, abril 09, 2006

Intimidade e Sonho

Vista parcial de Silves 9 de Abril de 2006

~*~
Intimidade e Sonho
partilhavas o meu leito nesse sonho,
o teu braço macio era a almofada
e com a paixão da insónia me enlaçavas.
eu beijava-te a boca, a nuca e a face
antes de, enfim, te possuir.
pelo teu amor!
se não me trouxesse o sonho a tua imagem
jamais experimentaria o sabor do sono!
Al-Mu'tamid
~*~

sexta-feira, março 31, 2006

Quem vive dos ardis da ilusão

Flor do campo Lugares do Rosmaninho Março 2006

***

Quem vive dos ardis da ilusão

E, assim, vai fugindo do amigo

Poderá encontrar consolação?

...
...
...
...
...
Al-Mu'tamid

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segunda-feira, março 27, 2006

Melancolia

Flor silvestre lugares do Rosmaninho 26 de Março 2006


~*~

Melancolia
um viático de ouro te daria se pudesse...
mas o infortúnio despenhou-se sobre mim.
queres um poema para a travessia do deserto?
olha que a poesia não é alimento para se comer!
é como o vento, não satisfaz fome nem sede,
dela apenas se nutrem sábios e poetas.
...
...
...
Al-Mu'tamid
~* ~

quarta-feira, março 22, 2006

Ilusão

Porta manuelina fachada lateral Igreja da Misericórdia Silves

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Ilusão
que do mundo o belo manto
não te encante nem te engane:
colorido e brilho tanto
não há tempo que os não fane.
...
Al-Mu'tamid
**

sexta-feira, março 17, 2006

Exílio

Planta à chuva 17 de Março de 2006

.. * ..

Exílio

eles saíram implorando chuva

e eu disse-lhes: ah quem dera

que pudesse meu pranto vos servir

em troca da chuva que buscais!

responderam: na verdade,

tuas lágrimas seriam quanto basta,

porém, de que nos serviriam

se com sangue se encontram misturadas?

Al- Mu'tamid
.. * ..
Versos que foram escritos pouco depois da sua chegada ao desterro, ao encontrar-se com camponeses que invocavam chuva.

terça-feira, março 14, 2006

A Missiva

Sé de Silves ( pormenor) Março 2006
~ * ~

A Missiva

horto de fulgentes estrelas faladas,
iluminador do negrissimo fosso das trevas:
chegou-me o teu poema em hora de tristeza,
fê-la minguar, depois desaparecer.
aqui fica um puro poço de amor
que convida a beber de novo
como se fora agora a vez primeira.
Al- Mu'tamid
~ * ~

sexta-feira, março 10, 2006

Lenda do mouro de chapéu de aba larga

Castelo de Silves (interior) 10 de Março de 2006
***

Lenda do mouro de chapéu de aba larga

O Castelo de Silves, conta-se..., tem uma lenda de um mouro encantado.

De manhã, aparecia com o seu chapéu de aba larga, na parte norte do Castelo e desafiava as lavadeiras que lá se encontravam lavando. Quase todas lhe faziam surriada e o mouro vingava-se fazendo cair, sobre elas, chuvas de pedra.

O mouro desapareceu, quando foram instaladas as prisões, no Castelo.

Os presos diziam que, à meia noite, sentiam estremecer todo o Castelo e, ao longo da madrugada, ouviam o mouro mexendo em papéis velhos.

***

Hoje, ao visitar o Castelo, lembrei-me desta lenda... não muito conhecida.

terça-feira, março 07, 2006

A carta

Pormenor da Sé de Silves e pombo(a) descansando 1 de Março 2006

~* ~

A carta

lua plena no horizonte do meu peito!

este poema não traz da mentira o jeito.

ao escravizares da fala a beleza,

pérolas espalhaste com largueza.

deixá-lo! enfia-las-á minha razão.

exclamei:

Allâh! que inteligência tão ornada

que pérolas rouba ao avaro mar.

aves que chegaram: vem à minha mão

esse teu segredo. não quero mais nada.

glória do meu reino, júbilo sem par:

apenas dois versos, tão somente dois

que de um puro amor me falam depois.

Al- Mu'tamid

~* ~

Dirigido a uma das suas favoritas que lhe enviara versos através de um pombo.

sexta-feira, março 03, 2006

A Amada

Vista parcial de Silves minha... 3 de Março de 2006 à tardinha

*****

A Amada

ó minha eleita sem par

de entre toda a humanidade:

estrela! lua a brilhar!

haste erguida e escorreita

gazelita no olhar.

da flor tu és o alento

és a brisa perfumada,

minha dona, meu sustento,

e grilheta bem-amada.

cego ficaria e surdo

pra que fosses resgatada.

chama-me que logo acudo.

...

Al- Mu'tamid

*****


quarta-feira, março 01, 2006

Poder

Cegonhas no Céu Lugares do Rosmaninho 1 de Março 2006

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Poder

meu olfacto é teu odor delicioso

e o teu rosto o senhor dos olhos meus.

por seres minha, mesmo depois do adeus,

é que todos me chamam poderoso.

Al-Mu'tamid

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sábado, fevereiro 25, 2006

Generosidade

Ervilhacas Silves(tres) Fevereiro 2006

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Generosidade

generosidade! és mais doce

que vitória sentir no coração

contigo é que se alcança a posse

daquilo que não alcança a nossa mão

...

ó rosto solar do crepúsculo e da alva!

tenho saudades do tempo generoso

como a terra seca do orvalho dadivoso.

...

...

Al-Mu'tamid

***


segunda-feira, fevereiro 20, 2006

O Adeus

Flor de esteva entre trevos Fevereiro 2006

~* ~

O Adeus

pra paixão calar fiz voto de silêncio

mas a língua queixosa ficou revoltada.

elas partiram disfarcei o meu amor,

água de tristeza em forma de murmúrio.

acompanhei-as até ao romper da alva,

já a noite perdera a sua razão de ser.

e atónito para ali me deixei ficar:

a manhã roubara-me as estrelas.

Al-Mu'tamid

~*~


sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Discrição

Rosmaninho "minha serra" Fevereiro 2006

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se não fossem os olhos a mirar,

e meus guardas sempre a murmurar,

iria ver-te, e para teu gosto,

fá-lo-ia de rastos sobre o rosto!

Al-Mu'tamid

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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Separação

Pormenor de Silves islâmica ( reconstituição de V. Borges), em segundo plano vê-se o Palácio das Varandas que Al-Mu'tamid evocou recordando a sua juventude (imagem retirada do livro de Adalberto Alves Al-Mu'tamid Poeta do Destino)
~* ~
Separação
só eu sei quanto me dói a separação!
na minha nostalgia fico desterrado
à míngua de encontrar consolação.
à pena, no papel, escrever não é dado
sem que a lágrima trace, caindo teimosa,
linhas de amor na página da face.
se o meu grande orgulho não obstasse
iria ver-te à noite: orvalho apaixonado
de visita às pétalas da rosa.
Al-Mu'tamid
~ * ~

domingo, fevereiro 12, 2006

Sabedoria

Vista parcial de Silves a partir do moinho 12 de Fevereiro de 2006
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Sabedoria
solta a alegria! que fique desatada!
esquece a ânsia que rói o coração.
tanta doença foi assim curada!
a vida é uma presa, vai-te a ela!
já é curta a sua duração.
e mesmo que a tua vida acaso fosse
de mil anos pleno já composta
mal se poderia dizer que fora longa.
seres triste não seja a tua aposta
pois que o alaúde e fresco vinho
te aguardam o caminho.
os cuidados não te afligirão
se a taça for espada a brilhar em tua mão.
da sabedoria só colherás a turbação
cravada no mais fundo do teu ser:
afinal, de entre todos o mais sábio
é aquele que não cuida de saber.
Al-Mu'tamid
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